A Comissão Mista Permanente do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul promoveu audiência pública, nesta quarta-feira (11), sobre uma ameça que paira sobre os produtores gaúchos: a falta ou escassez de fertilizantes para o plantio da safra 2022/2023. O risco se deve ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
Acontece que aproximadamente 85% do insumo utilizado pelo Brasil é oriundo de importação, sendo que a Rússia responde por uma fatia de 23%. No ano passado, foram adquiridas mais de 41 milhões de toneladas do produto, a um custo total de US$ 14 bilhões (cerca de R$ 72 bilhões, pelo câmbio atual).
No caso do Rio Grande do Sul, grande produtor agrícola e que compra da Rússia 30% dos insumos NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) para a produção de seus adubos, o cenário é preocupante. E o prolongamento do conflito no Leste Europeu (iniciado há quase três meses) gera apreensão no que se refere as próximas safras.
O colegiado no Parlamento gaúcho é presidido pelo deputado Issur Koch (PP), mas quem comandou a conversa foi sua colega Patrícia Alba (MDB), autora do requerimento para a reunião. Na pauta, a dependência brasileira do produto estrangeiro, bem como fontes alternativas e estratégias contra a vulnerabilidade da agricultura brasileira nesse cenário.
Também foi tema de debates o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado pelo governo federal e que serve de referência ao planejamento do setor para os próximos até o ano de 2050, com foco nos principais elos da cadeia: indústria tradicional, produtores rurais, cadeias emergentes, novas tecnologias, uso de insumos minerais, inovação e sustentabilidade ambiental.
O ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo (2015-2016) defendeu a extração sustentável de minerais na Amazônia para a produção de fertilizantes, desde que haja respeito ao meio ambiente e às comunidades indígenas da região. “A Amazônia não pode ser intocável”, frisou.
Já o especialista Diego Pautasso defendeu que a Petrobras participe da cadeia produtiva de fertilizantes: “A estatal obteve lucro de US$ 44 bilhões e precisa usar esses recursos em políticas estratégicas, no âmbito de um projeto nacional de longo prazo”.
Para a secretária de Relações Federativas e Internacionais do Rio Grande do Sul, Patrícia Kotlinski, o panorama inspira preocupação, principalmente se considerado o contexto de sanções envolvendo as relações econômicas e comerciais da Rússia com o resto do mundo. Ele sublinhou:
“Entretanto, o governo gaúcho está atento a esses desdobramentos e acompanha as negociações do Executivo federal para minimizar os impactos dessa crise que atinge o abastecimento de fertilizantes no mercado nacional”.
Situação atual
Apesar do embargo e das sanções internacionais à Rússia, o fertilizante do país europeu continua chegando ao Brasil. A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (que deixou o cargo no final de março, para concorrer ao Senado pelo Mato Grosso do Sul nas eleições deste ano) chegou a declarar que o plantio da próxima safra está garantido.
De acordo com fontes ligadas ao setor, o País continuou recebendo adubos produzidos pelos russos. Mas as remessas têm sido em menor volume e com prazos de entrega alongados. Os volumes já desembarcados são geralmente cargas adquiridas antes da invasão à Ucrânia (em fevereiro) e que, em grande parte, já estava em trânsito na época.
(Marcello Campos)