O assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Sergipe, na última quarta-feira (25), teve repercussão na imprensa internacional.
O site do jornal britânico The Guardian apontou que a morte em Umbaúba, no sul do estado, ocorre exatamente dois anos depois do assassinato de George Floyd, que foi asfixiado por um policial branco em Minneapolis, nos EUA. Assim como o americano, morto em 25 de maio de 2020, Genivaldo morreu por asfixia, segundo relatório de autópsia.
O jornal espanhol, El País, também deu destaque ao caso. O jornal publicou a seguinte manchete: um homem morre em um carro da polícia no Brasil onde policiais colocaram gás lacrimogênio. A publicação também deu destaque às imagens gravadas por testemunhas durante a abordagem.
A anistia internacional Brasil, pediu informações ao Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre as ações que serão feitas referentes aos procedimentos a serem instaurados, para apurar as circunstâncias da morte dele.
Já a Human Rights Watch disse que está consternada e chocada com a morte de Genivaldo de Jesus Santos e que o Ministério Público Federal (MPF) deveria investigar imediatamente a motivação da prisão de Genivaldo e as circunstâncias da morte, incluindo indícios de tortura.
O jornal norte americano The Washington Post também deu destaque ao caso e destacou que o homem foi à morte depois de ser colocado por policiais dentro de um carro com gás.
O site BBC destacou que a PRF retirou direitos humanos do curso de formação dos agentes. A publicação informa ainda que a abordagem de direitos humanos na formação dos policiais agora entra em uma oficina transdisciplinar chamada Práticas Orientadas para o Trabalho.
Cronologia
— Por volta das 11h do dia 25 de maio, Genivaldo foi abordado por três policiais rodoviários no km 180 da BR-101, em Umbaúba; segundo depoimento registrado no boletim de ocorrência (BO), os agentes o pararam por não usar capacete enquanto dirigia uma motocicleta;
— Imagens feitas por populares mostram quando os agentes pedem que ele coloque as mãos na cabeça e abra as pernas para a revista;
— O sobrinho da vítima, Wallison de Jesus, diz que avisou aos policiais que o tio tinha transtornos mentais. Ainda de acordo com ele, os agentes encontraram uma cartela de um medicamento controlado no bolso do tio, que fazia tratamento para esquizofrenia há cerca de 20 anos. Também segundo a família, Genivaldo era aposentado em virtude dessa condição.
— Wallison relata que o tio ficou nervoso e perguntou o que tinha feito para ser abordado. No BO os policiais dizem que ele ficava passando a mão pela cintura e pelos bolsos e não obedecia às suas ordens e que, por isso, precisaram contê-lo. Segundo os agentes, os primeiros recursos foram spray de pimenta e gás lacrimogênio.
— Um vídeo mostra quando um dos agentes tenta imobilizar Genivaldo com as pernas no pescoço. No chão, ele é algemado e tem os pés amarrados.
— Em seguida, Genivaldo é colocado no porta-malas do carro da PRF, que está com os vidros fechados. Os policiais jogam gás e fecham o compartimento.
— Genivaldo se debate, com os pés para fora do porta-malas, enquanto os policiais pressionam a porta.
— No boletim de ocorrência, os policiais dizem que o homem teve um “mal súbito” no trajeto para a delegacia e foi levado para o Hospital José Nailson Moura, no município, onde morreu por volta das 13h.
— O corpo foi recolhido pelo Instituto Médico Legal de Sergipe e chegou a Aracaju às 16h58. Um laudo do órgão aponta que Genivaldo morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.
— Por volta das 18h, a Polícia Rodoviária Federal se pronunciou, informando ter aberto um procedimento para apurar o caso, que também é investigado pelas polícias Civil e Federal. O Ministério Público Federal em Sergipe também acompanha as investigações.
— O corpo de Genivaldo foi sepultado em Umbaúba por volta das 11h do dia seguinte, 26 de maio. Ele deixou esposa e um filho e oito anos.
— No fim da tarde, a PRF informou sobre o afastamento dos agentes envolvidos.