A pandemia de Covid-19 trouxe diversas consequências imediatas à saúde pública, sentidas na forma de infecções, hospitalizações e óbitos. Os efeitos indiretos, no entanto, ainda são pouco conhecidos; precisam ser investigados para que seja possível a projeção do cenário de longo prazo e identificação das medidas necessárias por parte dos órgãos de saúde. Essa é a perspectiva do estudo coordenado pela Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A pesquisa, que aborda a saúde mental e física da população adulta do Rio Grande do Sul no contexto de pandemia, desenvolve em junho e julho de 2022 nova etapa de levantamento de dados.
Para contribuir com o estudo, residentes no estado, maiores de 18 anos, podem preencher formulário eletrônico (o tempo estimado é de dez minutos) sobre a prática de exercícios, suas condições físicas e psicológicas e o acesso aos serviços de saúde. O instrumento pode ser acessado pelo endereço https://redcap.link/pampaw4 ou pelos canais do no Instagram e Facebook (ambos @coortepampa2020).
O banco de dados da pesquisa, nas três primeiras etapas (referente a momentos distintos da pandemia), compreende mais de 7 mil participações. A primeira coleta foi realizada no início das medidas de distanciamento social (junho/julho de 2020). As seguintes, durante o processo gradativo de flexibilização (dezembro de 2020/janeiro de 2021 e junho/julho de 2021). Concluída a fase atual, o estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), prevê mais dois momentos, nos mesmos períodos de 2023 e 2024.
Nas próximas etapas, explica o coordenador da pesquisa, Eduardo Caputo, haverá processo de acompanhamento dos participantes, para que seja possível, com os dados da evolução no tempo da saúde da população do Estado, a percepção acerca dos efeitos da pandemia na saúde física e mental. Os resultados auxiliarão o poder público na formulação de políticas públicas para a saúde física e mental: as descobertas serão enviadas às secretarias municipais e estadual de saúde. “Vamos ter uma ideia de curto, médio e longo prazo para os efeitos indiretos da pandemia nas variáveis de saúde”, explica.
Atividade física em baixa, problemas de saúde em alta
No período pré-pandemia, os resultados do estudo da UFPel indicam que a prática de alguma atividade física estava na rotina de cerca de 70% da população adulta do Rio Grande dos Sul. No entanto, as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), 30 minutos diários ou 150 semanais, alcançavam 40% desse público, percentual considerado insuficiente. Com a pandemia, o início das medidas restritivas provocou queda nesses números em aproximadamente 50%.
Após, com as flexibilizações ao distanciamento social, recuperam-se os índices, mas sem alcançar o período anterior à pandemia. Esse cenário trouxe como consequência a alta de sintomas de ansiedade e depressão. Já as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, por precaução da população ou incapacidade de atendimento, provocou o desenvolvimento de doenças crônicas em uma a cada quatro pessoas. “As pessoas tiveram dificuldade muito grande para gerenciar a doença”, constata Eduardo Caputo. Em contraste, conforme a pesquisa, a parcela da população que conseguiu se manter fisicamente ativa alcançou maior proteção à saúde mental.
Atualmente, o prognóstico da pesquisa é de que a prática de atividade física segue deficitária, o que implica em diversos prejuízos à saúde: “A prática segue insuficiente no Rio Grande e isso é preocupante. Quem faz política pública precisa estar atento. Quanto pior o cenário, maior a carga sobre o serviço de saúde”, alerta.