15/07/2022 às 12h52min - Atualizada em 16/07/2022 às 16h10min

Psicólogo faz análise sobre caso do anestesista que estuprou paciente durante cesárea

Alexander Bez explica quais cuidados serão necessários para a saúde mental da vítima

SALA DA NOTÍCIA Márcia Stival Assessoria
Márcia Stival Assessoria
Reprodução internet
No dia 11 de junho, o médico anestesista, Giovanni Quintella Bezerra, foi preso e autuado em flagrante por estuprar uma mulher durante uma cesariana, na qual estava dopada. O crime aconteceu no Hospital da Mulher Heloneida Studart em Vilar dos Teles, São João de Meriti, município na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.

Segundo o psicólogo Alexander Bez - especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM) e especializado em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA) -, a violência obstétrica acontece em vários níveis, podendo ser desde uma cesariana desnecessária, uma fala agressiva, até um toque ou ato abusivo, como a do caso mencionado anteriormente.

“Ligado a esse tipo de Violência Sexual Obstetrícia, existe uma obsessão-compulsão, por parte do estuprador, usualmente, criminosos como esse anestesista, abusam de mais de uma vítima. Sendo assim, o modus operandi de abusadores na obstetrícia acontece no seu ambiente de trabalho, quando a vítima está em uma situação de vulnerabilidade. É pouco provável que haja a extensão de sua atividade criminal, fora do hospital, a não ser que haja uma desestruturação mental em um nível avançado, levando a psicopatia.” – explica Bez.

O psicólogo ainda declarou que o que Giovanni fez, são ações intencionais e conscientes. Tendo como principais características mentais a falta de empatia, de respeito à mulher, delírio de posse - por achar que ela pertence a ele, por estar vulnerável e, portanto, pode cometer o abuso -, e delírio de grandeza.

De acordo com Alexander, esse crime faz com que enxerguemos, de forma clara, como a vítima não deve ser culpabilizada pela violência sofrida. A sociedade tenta justificar casos de estupro pela roupa, lugar, batom ou se a vítima havia bebido, tirando ela do seu lugar e a passando para a posição de quem provocou e assim, merecesse tal ocorrido.

“No caso desse estupro, a vítima não deveria estar desacordada, ela estava à mercê do estuprador, totalmente vulnerável e isso gera uma insegurança, porque poderia ser qualquer mulher ali. E é importante falar também que na gravidez, no parto e no puerpério há uma maior vulnerabilidade psíquica. Dessa forma, há uma maior probabilidade natural de um adoecimento psíquico, como a depressão e outras doenças psicossomáticas. Então, após sofrer um trauma como um estupro durante a cesária, é preciso muito cuidado com a saúde mental da vítima.” – alerta.

Pesquisas mostram que só no estado do Rio de Janeiro, o feminicídio cresceu mais de 70% em 5 anos. No Brasil, 5 mulheres são assassinadas diariamente segundo dados de 2021. E não para por aí, o levantamento Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2012, mostra que 30% das mulheres atendidas em hospitais privados sofrem violência obstétrica, enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS) a taxa é de 45%.

Portanto, deve-se saber que a Lei Federal n° 11.108/2005, conhecida como a Lei do Acompanhante, garante o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.

Bez afirma que o trabalho psicoterápico para cuidar dos transtornos depressivos, ansiosos e de Estresse Pós-Traumático serão essenciais para a vítima. “É importante também não generalizar todos os médicos, não é a profissão que cria o estuprador, ele já era assim!”, finalizou.
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